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INTRODUÇÃO
no resto da vida agem no nível molecular e podem influir – mediante processos
de metilação –, na forma de expressão dos genes. São pequenas diferenças que
tornam cada ser humano singular, apesar de nossas enormes similaridades e pro-
cessos comuns e previsíveis de desenvolvimento. Parte dessas diferenças provém
dos genes e grande parte provém das experiências que conduzem às modificações
nas sinapses entre os neurônios.
Metilação do DNA (PHILLIPS, 2008, p. 1)
Há várias formas de controle da expressão dos genes nos eucariotes, mas a metilação do DNA
é um instrumento de sinalização epigenética que as células usam para colocar os genes na posição
“off”. Nas últimas décadas, os pesquisadores aprenderam muito sobre a metilação do DNA, inclusi-
ve sobre como e onde ocorre e, também, descobriram que se trata de um importante componente
de vários processos celulares, inclusive o desenvolvimento do embrião, o imprinting do genoma,
inativação do cromossoma X e preservação da estabilidade cromossômica. Dada a enorme parti-
cipação da metilação em vários processos, há uma tendência entre os pesquisadores de relacionar
“erros” de metilação a uma variedade de consequências devastadoras, inclusive doenças. Na ver-
dade não se trata de processos aleatórios e sim da natureza das estimulações – como a exposição
a fatores tóxicos e à ação de vírus e bactérias –, o que ocorre com maior incidência no cérebro
durante a vida fetal e depois dela, especialmente das crianças que vivem na pobreza e em regiões
de maior índice de risco.
A teoria da modularidade sugere que a experiência é lida pelo cérebro como
um conjunto de dados ou valores que são atribuídos pelos diversos equipamentos
especializados do cérebro, e cujas dimensões são consistentes com as da realidade
externa. A experiência chega ao cérebro via sistema nervoso, este é acionado por
impulsos elétricos captados pelos sentidos ou gerados internamente que, por sua
vez, geram agentes químicos que atuam junto às moléculas especializadas dos neu-
rônios – de acordo com a natureza dos estímulos. É dessa forma que o ambiente
ou a experiência afeta o funcionamento do cérebro, ele não altera a estrutura ou a
arquitetura cerebral – mas pode contribuir para a formação de novas conexões e
redes ou danificar estruturas e conexões existentes.
Temas como quociente de inteligência (QI) e plasticidade cerebral continuam
centrais no desenvolvimento da psicologia e na psicologia do desenvolvimento, e
refletem a busca de entendimento sobre o papel da experiência no desenvolvimento
cognitivo. A ideia de plasticidade cerebral tem muitos adeptos. Em sua versão mais
radical o cérebro não teria limites e qualquer função poderia ser restabelecida em
outra área – o que é crescentemente contestado pelas evidências.
A formação do sistema ótico constitui um exemplo útil para ilustrar o conceito
de plasticidade cerebral e suas limitações. A formação do sistema ótico conclui-se
nos primeiros anos de vida e, para tanto, necessita de luz do ambiente: trata-se de
uma atividade dependente de estímulos e condições ambientais. Se, por exemplo, a
criança vier a ter um olho vedado durante esse período crítico, a fiação do sistema
ótico vai desenvolver redes em diferentes locais, seguindo trajetos não dominantes
preexistentes nos genes (HUBEL; WIESEL, 1962).
A versão dominante sobre o tema da plasticidade sugere que o cérebro se desen-
volve sobre forte controle genético, e a experiência, armazenada como um conjunto
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