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Programa Alfa e Beto Pré-Escola – Manual de Orientação
Em outros países, especialmente os nórdicos e os de língua alemã, a Pré-Escola é
fundamentalmente um espaço de crescimento global da criança, sem uma preocupação
específica com a preparação para o mundo escolar. A noção básica é mais próxima do conceito
de Jardim de Infância, de cultivar as potencialidades da criança numa instituição que antes de
tudo cuida para que a criança se desenvolva (OCDE, 2001, OCDE, 2006).
Uma outra forma de caracterizar essas duas concepções é contrapor programas centrados na
criança a programas centrados no ensino. No primeiro caso, incluem-se intervenções como as
preconizadas por Maria Montessori, a partir da primeira metade do século XX, ou influenciadas
por ideias de Vigotski, a partir dos anos 80 (Bodrova e Leong, 2005), ou, mais recentemente,
o enfoque das escolas infantis da região de Reggio-Emilia (Lewin-Benham, 2008). No outro
caso estariam intervenções que enfatizam o ensino de competências mais associadas com a
futura escolarização das crianças e, em muitos aspectos, se assemelham mais a uma escola.
Intervenções desenvolvidas sob o patrocínio do Programa Head Start, nos Estados Unidos,
incluem-se nesse caso, como os conhecidos e bem sucedidos programas Perry/High-Scope
(Schweinhart e Weikart 1997), o projeto Abedecerian (Campbell et al., 2001) e o projeto dos
Centros Pais-Filhos de Chicago (Reynolds et al 2004).
Essas duas concepções são bastante diferentes. Uma visita a instituições em diferentes
países no processo de desenvolvimento da presente proposta do IAB, deixou clara a diferença
no funcionamento das escolas e salas de aula em diferentes países e culturas. No entanto,
culturas e filosofias à parte, os resultados são bastante semelhantes: ambas possuem currículos
muito bem estruturados, e ambas preparam muito bem as crianças para enfrentar os desafios da
escolarização formal e melhorar suas perspectivas ao longo da vida (Clarke-Stewart e Allhusen,
2005). Menos do que a filosofia educacional, o que faz diferença na vida das crianças são dois
aspectos comuns a esses programas: a elevada qualidade e a atenção ao desenvolvimento de
competências relevantes para o futuro da criança na escola formal e na vida.
Essa breve reflexão serve para entender a missão da Pré-Escola: a Pré-Escola ocorre durante
uma fase crítica do desenvolvimento infantil. É a fase das grandes descobertas sobre as pessoas e
o mundo, da transição entre total dependência e um razoável grau de independência e maturidade,
entre a liberdade quase total da criança que só brinca e as inevitáveis coerções institucionais da
escola, entre o controle externo e o controle interno cada vez maior dos sentimentos, emoções e
ações. Além disso, é a fase em que ocorre a primeira perda da inocência infantil – somente por
volta de 4 anos a criança aprende a dissimular e a entender que os outros podem mentir. Enfim,
é a fase de transição entre ser apenas uma criança para tornar-se uma criança-estudante.
Pesquisas realizadas no Brasil nos últimos 10 anos por pesquisadores como Pais e Barros
e Ruben Klein e analisados em relatório da Academia Brasileira de Ciências (2009) têm
apontado para o impacto da Pré-Escola no sucesso escolar posterior dessas crianças. Crianças
que frequentaram a Pré-Escola demonstram melhor desempenho escolar do que crianças
que não a frequentaram, e essas diferenças não são triviais, tampouco podem ser ignoradas.
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