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Programa Alfa e Beto Pré-Escola – Manual de Orientação
os acontecimentos, enfim, aprender de forma interativa, já que a presença e o encorajamento
pelos adultos é essencial para que a criança aprenda.
O tipo de comportamento observado por Vigotski foi sobretudo a aprendizagem da linguagem.
Os recentes estudos da neurociência confirmam que as pessoas que convivem com as crianças
– em qualquer cultura – são biologicamente “programadas” para falar de forma que as crianças
entendam, modulando a voz, falando mais alto, mais devagar, etc. Ou seja: os estudos e avanços
mais recentes da neurociência comprovam as observações de Vigotski sobre como a criança
entende o mundo e se relaciona com ele por meio da linguagem, mas ressaltam que o papel
dos adultos não é intencional, e sim programado biologicamente. São os avanços mais recentes
da neurociência que nos permitem compreender melhor como a criança entende o mundo e se
relaciona com ele por meio da linguagem.
Como as crianças decifram o mundo. Diversos estudos apresentam evidências que desde
cedo as crianças desenvolvem processos mentais para entender o mundo que as cerca. Elas
procuram razões, causas, justificativas para as coisas; o que não significa que elas tenham um
raciocínio lógico nem que, ao perguntar “por que isso” ou “por que aquilo” desejem uma explicação
racional. A maioria das perguntas refere-se à pessoas (por que elas são assim ou assado), um
menor número de perguntas refere-se ao mundo natural. Suas perguntas geralmente têm como
motivação saber a relação entre pessoas, suas ações e a própria criança; ou seja, por trás
das perguntas quase sempre reside uma questão subjacente: o que isso tem a ver comigo?
Esta é a forma das crianças começarem a buscar explicações para o mundo que as cerca. Há
evidências de que até mesmo antes de imitar comportamentos – o que é uma forte característica
das crianças nessa fase da vida – elas avaliam primeiro as intenções dos adultos (Kelemen et
alia. 2005, Williamson et alia 2008).
Como as crianças decifram os outros. Assim como as crianças desenvolvem uma “teoria”
do conhecimento do mundo, desenvolvem também uma “teoria da mente” para decifrar o que as
pessoas pensam e entender suas reações: por que elas riem, choram, dão presentes, etc. Por
exemplo: por que as crianças, quando brincam de esconde-esconde, voltam a se esconder nos
mesmos lugares? Isso se dá porque as crianças, até por volta de três anos, sendo egocêntricas,
não conseguem imaginar e abstrair o que o outro está pensando. Somente por volta dos quatro
anos, em função da maturação do córtex pré-frontal, elas aprendem a lidar com as ilusões, mentiras
e transpor o limiar do mundo da magia. Mas, vale ressaltar a importância do meio na aprendizagem
e desenvolvimento da criança, uma vez que a mera existência de um irmão mais velho representa
um ano cronológico a mais em seu desenvolvimento cognitivo (Gopnik, Meltzoff e Kuhl, 2001).
O desenvolvimento da linguagem. A linguagem é um instrumento central para o
desenvolvimento cognitivo. A capacidade para aprender a linguagem é inata, mas, o quanto e
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