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Programa Alfa e Beto Pré-Escola – Manual de Orientação
O desenvolvimento da linguagem percorre algumas etapas que são mapeadas por alguns
estudiosos. A primeira explosão, que ocorre por volta dos dois anos, é chamada a “fase do paraíso”.
Como na versão bíblica, a criança começa a nomear a tudo e usa nomes para indicar objetos
e ações. A segunda explosão ocorre por meio de um processo conhecido como “mapeamento
rápido”: a criança generaliza. Gato serve para nomear qualquer animal, tia serve para qualquer
adulto. Só aos poucos a criança vai ajustando as palavras para expressar significados mais
precisos. No caminho, ela vai fazendo associações e expandindo rapidamente seu vocabulário;
conhecer um nome em cada categoria (carro, navio) ajuda a identificar novas palavras nessa
categoria, e, quanto mais palavras a criança sabe, mais novas palavras ela pode aprender
utilizando a estratégia do mapeamento rápido (Gershkoff-Stowe e Hhan, 2007, Mintz, 2005).
A forma como as crianças ouvem as palavras afeta sua capacidade de compreensão.
A tendência das crianças é generalizar. Se ela aprende o conceito de vaca malhada, é provável
que ela vá aplica-lo a um “dálmata malhado”. Elas inventam verbos, adjetivos, estendem seu
vocabulário ao máximo para se fazer compreender e testar o sentido do que acabam de aprender.
Por exemplo, crianças aprendem mais facilmente se dissermos: olhe o tórax da formiga do que
se ensinarmos as partes do corpo sem relacionar com uma pessoa ou animal. Palavras que
exprimem relações (longe, perto, alto, raso) mas não exprimem significado são mais difíceis
para aprender. O mesmo ocorre com palavras que exprimem o tempo – o conceito de amanhã
como algo que ocorre a cada dia, e não como um dia determinado é difícil de ser compreendido
(Exemplo: depois de tanto ouvir que o Natal é amanhã: no dia do Natal a criança pergunta:
Hoje já é amanhã?).
Há inúmeros estudos sobre a aprendizagem da gramática e, curiosamente, parece haver
desenvolvimentos diferenciados para diferentes aspectos da gramática. Aos três anos de idade
as crianças de qualquer língua dominam as estruturas básicas da mesma. A partir disso as
aquisições gramaticais são diferenciadas no tempo e associadas à mielinização do cérebro.
A genética influi mais na linguagem expressiva (linguagem escrita e oral), ao passo que o
ambiente influi mais na linguagem receptiva (o que ouvimos, lemos e, em última instância, o que
entendemos) (Kovas et al. 2005).
Em síntese: natureza ou meio ambiente? Cuidar ou educar? Os avanços da neurociência
sugerem que não há lugar para essas posições extremas. A natureza do ser humano se realiza
no seu contato com o ambiente. Ambos têm sua lógica, mas nenhum é absoluto: há muito
que se pode fazer para desenvolver o potencial genético das crianças. Além disso, cuidado e
educação andam de mãos dadas: o afetivo é indissociável do cognitivo. É nisso que reside o
conceito contemporâneo de epigenética, e é esse o espaço que se abre para a compreensão das
potencialidades e limites da educação infantil.
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