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FONEMAS, SONS E O SIStEMA DE ESCrItA DA LíNgUA POrtUgUESA
               O conceito de som é conhecido. Podemos entender que a palavra gato tem um som, o
            som da palavra gato, que a distingue de qualquer outra. Podemos entender que a palavra
            gato é formada por dois sons, ga e to. É mais difícil perceber que além do som da sílaba,
            existem outros “sons” que o aluno precisa aprender.  É esse o desafio que este manual
            ajuda a superar.
               O sistema de escrita da Língua Portuguesa é o sistema alfabético. O alfabeto – com-
            posto por 26 letras – permite representar todos os fonemas que nós articulamos para falar
            qualquer palavra de nossa língua.  Esses sons são divididos em vogais e consoantes.


                                   Os FOneMAs dA LínguA POrtuguesA
                    VOGAIS ORAIS                 VOGAIS NASAIS                  CONSOANTES
                                                                          /b/  /k/  /d/  /f/  /g/  /j/ /l/ /m/
               /a/  /ê/  /é/  /i/  /ô/  /ó/  /u/  /am/ /em/ /im/ /om/ /um/  /n/ /p/ /q/ /R/ /r/ /s/ /t/ /v/ /ch/
                                                                                  /z/ /lh/ /nh/

               As vogais têm um “som” independente: a, é, ã, etc. Já as consoantes, por definição, são
            co-soantes, elas soam junto com outras letras, as vogais. Do ponto de vista da linguística,
            a letra “P” não tem um som: ela representa o “fonema” /p/. Os linguistas usam colchetes
            para representar os fonemas. No presente livro usamos uma notação mais simples para
            facilitar o entendimento.

               A rigor, portanto, é incorreto falar em “som” das letras, pelo menos no que diz respeito
            às consoantes.
               Consideremos o caso do /f/.  Podemos pronunciar o /fffff/ quase sem misturar o seu
            “som” com a vogal a, e, i, o, u. Tente pronunciar fffff e depois fffa, ffffe, ffffi, fffffffo, fffu.
            Você consegue articular o segundo fonema (a vogal) em qualquer momento da emissão
            dessa sílaba.

               Considere agora o /p/.  Tente articular o fonema /p/.  O que se ouve é algo parecido
            com “pê” e não com /p/.  Tente falar pppppa ppppi: quando você vai falar “pá”, a boca
            já se prepara para emitir também o “a”, de forma diferente de quando você se prepara
            para emitir o “e” para dizer “pi”.  Isso prova que o fonema não é um som, do ponto de
            vista rigoroso.
               A questão prática para o professor é: como ajudar os alunos a descobrir essas relações
            entre fonemas e grafemas. Não se trata, portanto, de saber pronunciar o “som” das letras.
            Isso é totalmente irrelevante – mesmo porque, como vimos, tecnicamente as letras repre-
            sentam fonemas, e não “sons”.  O desafio é entender que as letras representam algo que
            – pelo menos no caso das consoantes – não é um “som”, mas ajuda a formar um som.  Se
            eu digo pá ou bá, a letra p ou b muda a pronúncia.  A essência da consciência fonêmica é
            descobrir que quando eu ouço pá e bá ou pá e pé eu estou ouvindo palavras diferentes.  E
            que essa mudança implica mudar as letras que representam essas palavras.

                O fonema, portanto, é uma abstração, e uma abstração difícil. Tanto o é, que os alunos
            não se apercebem disso naturalmente. Se fosse fácil não haveria adultos analfabetos.  Por
            outro lado, é mais fácil, do ponto de vista didático, dizer para o aluno que a letra P represen-
            ta o som /p/ do que fazer uma explicação teórica sobre o conceito de fonemas.  Na maioria



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