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na segunda parte, são tratadas questões práticas de interesse do professor alfabetizador. ela inclui
tópicos como programas de ensino, métodos, atividades práticas de sala de aula e materiais de alfabetiza-
ção de adultos. essas questões são tratadas de forma clara, porém rigorosa, à luz dos conceitos discutidos
na primeira parte do livro. o livro aborda com clareza, transparência, lógica e fundamentação científica
alguns tabus e preconceitos amplamente disseminados pela cultura pedagógica brasileira. ele fornece ao
leitor instrumentos para avaliar criticamente tradições que representam apenas atitudes conservadoras
e ultrapassadas, tradições que foram atualizadas e que continuam úteis e robustas. Por outro lado, alerta
sobre propostas que, embora populares, atraentes e politicamente corretas, não se baseiam em evidências
científicas atualizadas e comprovadas, e vêm se tornando uma espécie de religião ou ideologia, no Brasil.
A terceira parte é um convite ao debate e à ação. essa parte do livro apresenta dados sobre o nível de
alfabetização dos brasileiros e compara os PCns do país com seus equivalentes em outros países, para des-
tacar seus principais equívocos. o último capítulo contém um conjunto de referências em língua portuguesa
que pode ser útil para embasar um debate cientificamente fundamentado sobre o tema. os contornos desse
debate que ora se inicia no Brasil estão apresentados na próxima seção desta Introdução.
3. O debate sobre alfabetização no Brasil
nos últimos 25 anos, as discussões sobre alfabetização no Brasil foram praticamente monopolizadas
por um pensamento único, baseado em ideias conhecidas como Whole Language e outras ideias que foram
difundidas em nosso país sob o nome de psicogênese da língua escrita. essas ideias são mais popularmente
conhecidas entre os educadores brasileiros pelos nomes de construtivismo, socioconstrutivismo e inte-
racionismo socioconstrutivista. esse pensamento está presente de forma monolítica na quase totalidade
dos cursos e bibliografias utilizadas nas universidades brasileiras desde o início da década de 1980. ele foi
sacramentado quando da publicação dos PCns nos anos de 1996 e 1997, e é tido, tanto na comunidade
acadêmica brasileira quanto entre os profissionais da alfabetização, como representante das concepções
mais atuais sobre a aprendizagem e ensino da alfabetização. essas ideias adquiriram um status de hegemo-
nia no país, a ponto de seus arautos ignorarem, minimizarem ou dispensarem qualquer menção à literatura
científica corrente no resto do mundo.
As evidências científicas disponíveis e compartilhadas pelos cientistas que militam nesse campo não
confirmam nem os pressupostos nem os achados que foram realizados a partir desse paradigma. os para-
digmas dominantes na área de leitura e escrita, de aceitação corrente na comunidade científica internacional,
não são os da psicogênese ou do construtivismo. eles são conhecidos pelo nome de Ciência Cognitiva da
leitura, e dentro deles se destacam duas orientações principais que refletem dois modelos explicativos: os
modelos de processamento da informação e, mais recentemente, os modelos baseados no funcionamento
das redes neurais.
Cabe registrar que em nenhuma revisão da literatura sobre leitura e escrita, publicada a partir de 1990
em livros ou revistas científicas de circulação internacional relacionadas ao tema, o leitor encontrará qual-
quer evidência ou afirmação que lhe permita concluir que a perspectiva psicogenética tenha trazido uma
significativa mudança de pressupostos e objetivos na área de alfabetização ou que tenha se constituído numa
mudança paradigmática. Ao contrário, como afirmam Morais e Kolinsky, em artigo publicado na revista
Pátio, de fevereiro/abril de 2004, “a Cência Cognitiva da leitura é praticamente desconhecida, pior, inten-
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