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INTRODUÇÃO

                                  elas podem ser comprovadas ou contestadas com dados obtidos a partir de pro-
                                  tocolos metodológicos específicos. Até que os fundamentos do paradigma sejam
                                  “desconfirmados”, vale o paradigma.
                                    Nas ciências sociais, em geral e na psicologia, em particular, grandes teorias
                                  dominaram a primeira metade do século XX – Freud, Jung, Piaget, Vigotsky, Skin-
                                  ner – e deixaram profundas marcas no que aconteceu depois – mesmo tendo os
                                  seus princípios sido “falsificados” pelas evidências empíricas ou considerados como
                                  insuficientes para explicar os fatos. As teorias assentam-se em postulados não de-
                                  monstrados. Por isso pode acontecer que a teoria se revele falsa sem que os postu-
                                  lados o sejam. Quando isso ocorre as “Teorias” ou “teorias” podem se converter em
                                  sistemas de crença ou ideologias. As intuições geniais dos mestres que as formula-
                                  ram permanecem influindo em muito do que se fez na segunda metade do século
                                  XX e, ainda, guiam algumas das perguntas que incomodam e seduzem os cientistas.
                                    A partir da segunda metade do século XX, as teorias e as propostas de estudo
                                  científico da psicologia adquirem contornos mais específicos – como no caso da
                                  Psicologia Social e das teorias baseadas em modelagem, inspiradas pelo conceito de
                                  processamento de informação.
                                    A ambição das grandes Teorias é sempre a mesma – entender a estrutura geral
                                  da cognição. Na prática – como foi o caso das ciências naturais –, parece mais fru-
                                  tífero procurar entender questões específicas do que procurar explicações muito
                                  compreensivas. Galileu revolucionou a ciência procurando entender a queda de
                                  um corpo. Einstein preocupou-se com a origem do efeito fotoelétrico. Este mo-
                                  delo começa a entrar progressivamente no programa de trabalho da psicologia
                                  científica. O cérebro é a porta de entrada.
                                    Três forças de base impulsionam o desenvolvimento da psicologia. A primeira delas
                                  é o evolucionismo e seus mecanismos de seleção natural e adaptação. Aplicado ao cé-
                                  rebro isso significa entender que o cérebro evoluiu como resultado de pressões múlti-
                                  plas. Não se trata de uma evolução linear e bem organizada, mas de algo mais parecido
                                  com um processo de “bricolagem”, ou seja, estruturas e processos foram selecionados
                                  pelas leis da genética para desempenhar funções específicas que iam se apresentando
                                  no processo da evolução: reconhecer faces, programar a ação, identificar o outro, usar
                                  uma ferramenta. No entender de Paul Bloom (op. cit., p. 5), alguns de nossos traços
                                  mentais mais interessantes são melhor entendidos como subprodutos inesperados de
                                  nossa capacidade de compreender e responder às mentes dos outros indivíduos.
                                    A segunda força que impulsiona o desenvolvimento da psicologia é a neurociên-
                                  cia, apoiada no avanço da tecnologia de registro da atividade cerebral que permitiu
                                  acesso a novos instrumentos estatísticos e mecanismos de coleta e processamento
                                  de dados, por exemplo, os mecanismos de leitura e mapeamento do cérebro em
                                  atividade: a caixa preta aos poucos vai deixando de ser inacessível. Importante, mas
                                  secundário, foi o projeto Genoma desenvolvido com maior intensidade ao longo da
                                  última década do século XX.
                                    A terceira força foi o avanço realizado em outras ciências, especialmente a an-
                                  tropologia e a linguística – esta, por exemplo, propôs novos modelos para entender
                                  o funcionamento da linguagem e que permitiram superar as limitações de algumas
                                  das “teorias” psicológicas que se tornaram mais populares no século XX. Houve,
                                  também, avanços significativos aportados pelas ciências que estudam e modelam
                                  os processos de decisão.
                                    No contexto atual surge uma nova agenda para a psicologia experimental focada
                                  em agendas de pesquisa que permitam estabelecer as leis que intervêm nos proces-
                                  sos mentais.

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