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DESENVOLVIMENTO INFANTIL: O QUE DESENVOLVE?

                                  O desenvolvimento da psicologia



                                    A psicologia nasce no fim do século XIX. Nas palavras de um de seus pioneiros,
                                  William James, a psicologia é a ciência da vida mental. Como ciência experimental,
                                  ela surge como um ramo da psicofísica no laboratório de Wundt e com os estu-
                                  dos sobre a memória associativa realizados por Ebbinghaus. Desde o nascedouro,
                                  a psicologia convive com tendências mais teóricas, filosóficas e subjetivas, voltadas
                                  para o estudo da mente, e outras de base experimental, embora igualmente voltadas
                                  para entender o funcionamento da mente. O desafio a que a psicologia se propõe é
                                  o de entender a relação entre corpo e mente, como o cérebro pode produzir estados
                                  mentais e vice-versa.
                                    O tema da dualidade corpo–mente (ou corpo–espírito) não é próprio da psico-
                                  logia, ele envolve questões filosóficas que preocuparam todas as grandes religiões e
                                  os grandes filósofos – notadamente, Platão, Descartes e Kant. As discussões – que
                                  possivelmente nunca irão terminar –, giram em torno desses dois polos: monismo e
                                  dualismo. Corpo e mente são mecanismos separados? Dependentes? Independen-
                                  tes? Para o leitor interessado em discussões mais filosóficas e gerais sobre o tema
                                  vale estudar as publicações de autores como A. Damasio, M. Gazzaniga, S. Pinker,
                                  O. Sacks, entre outros.




                                       Paul Bloom (2004), na introdução de seu instigante livro Descartes’ Baby,
                                     sugere que o ser humano é naturalmente dualista. Mesmo os bebês possuem
                                     capacidades de compreender tanto o mundo físico quanto o mundo social
                                     – o mundo do corpo e da mente, e eles os compreendem como seres de natu-
                                     reza distinta. Eles esperam que os objetos obedeçam aos princípios da física
                                     e se espantam se as coisas desaparecem ou desafiam as leis da gravidade.
                                     Podem ler emoções dos adultos e responder com sentimentos de medo, raiva
                                     ou simpatia. É o que se chama de “psicologia ingênua”.




                                    O espectro de perguntas que a ciência psicológica faz, para decifrar as opera-
                                  ções mentais, é infindável: como o organismo age desde a percepção de um estí-
                                  mulo até a realização de um ato motor? Como funciona a memória? O que é uma
                                  palavra ou uma emoção? O que significa e em que implica “tomar uma decisão”?
                                  Como opera o cérebro?
                                    Ao longo do século XX, a psicologia veio tentando adquirir um status científi-
                                  co, e isso se fez – nas ciências experimentais – por meio do empirismo, estabele-
                                  cendo leis que permitam prever e explicar os fenômenos próprios ao seu campo
                                  de estudo. O alvo dos pioneiros da psicologia era o de estabelecer leis tão sólidas
                                  quanto às das ciências físicas ou naturais. Nas ciências naturais, as teorias são
                                  respostas agrupadas em sistemas coerentes de hipóteses em grande parte com-
                                  provadas ou passíveis de comprovação. O valor de uma teoria é puramente ins-
                                  trumental. Vale o que diz a realidade e isso é aferido por meio de rigorosos testes
                                  experimentais. Teorias apresentam explicações para os fenômenos – como são os
                                  casos da Teoria Atômico-molecular ou da Teoria Especial da Relatividade. Elas se
                                  referem a corpos de conhecimentos robustos, articulados e bem estabelecidos que
                                  funcionam como marco de referência ou paradigma. A partir desse referencial,

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