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Parte I – APRENDER
– ou, no extremo, na falta de domínio da língua –, a criança fica sem condições de desenvolver normal-
mente essas capacidades. Ou seja: há pouco ou nada que se possa fazer para alterar, apressar ou intensifi-
car a seqüência e o ritmo de desenvolvimento dessas competências. Por outro lado, é preciso considerar
que – dada a lógica de desenvolvimento dessas estruturas e suas características – é possível ensinar a
crianças de qualquer idade ou em qualquer nível muitos conceitos, inclusive habilidades de nível mais
elevado, desde que se encontre uma forma adequada que lhes permita estruturar esses conceitos e habili-
dades. Nesse sentido, os níveis de desenvolvimento, apesar de relativamente fixos, não determinam o
que a pessoa é capaz de aprender numa certa idade, e sim as formas e níveis de abstração em que é capaz
de aprender.
Em sua grande maioria, os alunos do ensino fundamental estão passando por uma etapa que Piaget denomi-
nou de “pensamento de operações concretas” (sete a 11 anos) e pela última etapa denominada de “pensamen-
to de operações formais” (11 a 15 anos) (Flavell, 1982). Isso significa que os alunos estão evoluindo de um
estágio de ver o mundo de forma concreta para um estágio no qual desenvolvem capacidades intelectuais para
pensar o mundo e compreendê-lo de forma mais abstrata.
• Compare a situação de seus alunos com a informação apresentada no quadro 1.1.
• Analise onde eles estão e até onde podem ir, em sua disciplina.
A palavra “concreto” não significa necessariamente que o aluno precisa manipular fisicamente um objeto
para aprender o seu significado. Quando o aluno conhece o conceito de vaca e sabe identificar uma vaca e
distingui-la de outros animais, ele adquire o conceito concreto do que seja uma vaca. Depois disso, o
professor não precisa desenhar uma vaca para referir-se ao animal – a palavra adquire um significado
concreto, isto é, o conceito adquirido pelo aluno tem referenciais concretos, como, por exemplo, quando
aprende que o conceito “verbo” diz respeito a palavras que indicam uma ação.
Níveis de desenvolvimento mental e plano de curso
Ao elaborar seu plano de curso, assegure-se de que os conteúdos, a estrutura e as exigências do
que está apresentando aos alunos estão adequados ao seu nível de desenvolvimento. Na maioria
das circunstâncias, é melhor iniciar a nova aprendizagem a partir de atividades e conceitos con-
cretos, relacionados com a vida cotidiana dos alunos. Por exemplo, o uso de uma linguagem
prática e de exemplos oferece oportunidades para o aluno aplicar e imitar atividades concretas
relacionadas com seu dia-a-dia. Deve também mostrar a lógica subjacente aos diversos conceitos
e operações que vai aprendendo mediante exemplos práticos e concretos (como ilustrado na
coluna 3 do quadro 1.1)
Desenvolvimento social
De modo geral, no período entre os 10 e os 15 anos, os jovens passam por interessantes transformações,
nas quais:
o papel e a influência dos pais tendem a diminuir;
eles começam a ser mais independentes, a testar seus limites e a explorar novas áreas (fumar, comer,
jogar, relações afetivas, trabalhar, etc.);
a importância dos colegas e companheiros aumenta;
a importância dos professores aumenta.
Nesses processos de autodescoberta, descoberta do outro, imitação e identificação, os jovens experimentam
novas formas de relação com seus colegas. Entre tais relações, salientam-se a conformidade com as normas do
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