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Nas próximas seções, tratamos da questão metodológica, da organização do livro e
sintetizamos as principais conclusões, com o intuito de aguçar o apetite do leitor.
Metodologia: como sabemos o que sabemos sobre o impacto das
escolas
Há dados e dados. Nem toda pesquisa é científica, nem todo dado é confiável e nem todas
as conclusões são robustas. Mas existem critérios para validar o conhecimento e hierarquias
entre eles.
No Brasil, é muito comum as pessoas, mesmo em ambientes universitários e profissionais,
perguntarem a um palestrante o que ele acha disso ou daquilo. Há três ângulos a explorar
para entender o significado subjacente a essa forma de perguntar. De um lado, ela coloca tudo
no plano da opinião, do “achismo”. Ora, opinião, mesmo qualificada, não é Ciência, não basta
como fonte de evidência. Em segundo lugar, ela reforça o princípio da autoridade – se essa
pessoa é professor ou palestrante tem autoridade, portanto sua opinião tem valor. É claro que
a voz de uma autoridade tem mais peso do que a voz de um leigo, mas a autoridade é limitada
ao domínio do conhecimento e não ao status social do professor ou palestrante. Quando
pedimos a “opinião” de um especialista, na verdade, estamos pedindo um parecer técnico
e fundamentado – não um palpite qualquer. E autoridades – mesmo acadêmicas – também
costumam cometer abuso de poder ao revelar apenas parte das evidências ou apresentá-
las de forma a favorecer o seu ponto de vista. A Ciência está repleta de controvérsia, as
autoridades divergem entre si. Terceiro, essa abordagem fundamentada na curiosidade e no
“achismo” também denota um desprezo pela ciência, ao nivelar no mesmo plano qualquer
pessoa e qualquer opinião. Fulano diz isso, beltrano acha aquilo e estamos conversados. Tudo
tem o mesmo valor: opiniões, fatos, evidências, autoridades. Se tudo vale igual, nada vale. A
ciência tem mais a oferecer do que meramente opiniões – inclusive opiniões abalizadas.
Outra tendência ainda muito forte no Brasil, especialmente no campo da Educação, é o
alinhamento das pessoas a uma determinada teoria, autor ou autoridade. Com isso, elas
se preocupam mais em saber qual é a teoria ou linha de trabalho do pesquisador e se isso
se coaduna com suas crenças ou ideologia pessoal. Alinhamento ideológico ou teórico não
assegura a validade dos conhecimentos.
A palavra teoria tem dois sentidos. Nas Ciências Físicas, a palavra Teoria normalmente se
refere a conjuntos de conhecimentos comprovados, produzidos sob um mesmo paradigma
científico, que permanecem válidas até que se prove o contrário. Normalmente, abrangem
amplas áreas do conhecimento, como a mecânica de Newton, a Teoria da Relatividade ou a
Teoria da Evolução. Essas são teorias que se escrevem com “T” maiúsculo.
Nas Ciências Humanas e na Educação, em particular, teorias se referem a um conjunto de
ideias ou hipóteses de trabalho, tentativas de explicação mais ou menos abrangentes de um
determinado fenômeno. Essas teorias, com “t” minúsculo, são apenas hipóteses de trabalho –
10 Introdução