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algumas mais brilhantes e duradouras do que outras – mas apenas isso. Na primeira metade
do século XX, foram desenvolvidas várias teorias “abrangentes” sobre o desenvolvimento
infantil (Piaget) a personalidade (Freud) ou a aprendizagem (Skinner). Com o avanço dos
métodos científicos, essas teorias muito amplas foram sendo substituídas por explicações
menos ambiciosas e com menor grau de abrangência, mas com rigor muito maior.
Teorias com “T” ou “t” são apenas formas de perguntar, o que vale são as respostas e
os métodos usados para refutar, ampliar ou comprovar as suas hipóteses. Teorias só
valem na medida que produzem perguntas férteis e hipóteses que possam ser validadas
ou desconfirmadas pelos fatos. Teorias são como pessoas – morrem ou são superadas por
explicações mais robustas – do ponto de vista científico. Foi-se o tempo da busca por uma
teoria da Educação que tudo explica e nada deixa de fora. Mas ainda há muita gente no
Brasil que substitui o hábito de pensar e o rigor da prova pela certeza de suas ideias – ou
teorias preferidas. Mesmo depois que uma teoria é contestada pelos fatos, as pessoas ficam
aferradas a elas. Esta é uma atitude anticientífica, que contribui para desvalorizar a profissão
e os profissionais da Educação.
Uma terceira tendência difundida no Brasil, tanto na imprensa quanto em artigos de
divulgação encontrados em publicações técnicas, ou até mesmo certas revistas acadêmicas
de qualidade duvidosa, é a citação genérica do tipo “pesquisas confirmam que” ou o “autor
fulano de tal concluiu que…” ou “uma pesquisa realizada em tal lugar concluiu que…” E a partir
daí são feitas inferências sem fundamento em evidências robustas.
Os conhecimentos hoje disponíveis sobre amplos aspectos da Educação – que vão desde a
efetividade de grandes reformas educativas até aspectos micro, como a forma de intervenção
de um professor na sala de aula – têm sido objeto de investigações cada vez mais rigorosas,
usando métodos científicos tão sofisticados quanto os das ciências chamadas “exatas”.
Explicações com status científico precisam demonstrar a relação entre causa e efeito – e
para isso existem métodos adequados. O “padrão-ouro” são as pesquisas que involvem
experimentos em que os sujeitos dos grupos a serem comparados são escolhidos de forma
aleatória. Mas há outros métodos que asseguram a comparabilidade dos grupos, que também
podem gozar desse status.
Além do status metodológico do estudo, é necessário rever o que dizem os vários estudos
a respeito de um determinado assunto. Para isso existem técnicas estatísticas denominadas
de meta-análise, que permitem comparar, numa mesma métrica, resultados obtidos por
pesquisadores diferentes a respeito de um mesmo tópico.
Outro conjunto importante de evidências deriva de pesquisas baseadas em análise de
dados já existentes – hoje cada vez mais disponíveis e manipuláveis por meio de técnicas
estatísticas robustas cujo uso foi facilitado pelos avanços da informática. Esse tipo de estudo
revela relações entre dados e permite fazer previsões bastante acuradas, mas apenas isso.
Não permitem inferências causais. Uma coisa é dizer que A está fortemente relacionado a B,
outra coisa é provar que B causa A.
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