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Daqui decorrem duas conclusões. De um lado, a matemática que
                  os professores das séries iniciais precisam saber é umas subdisciplina
                  com conteúdos específico – diferente de cursos avançados de álgebra ou
                  cálculo, mas que precisa ser ensinada e aprendida com o rigor e precisão
                  próprios da área. De outro, a pedagogia de disciplina é inseparável de
                  seu conteúdo: para inventar e contar boas histórias de matemática (cinco
                  passarinhos estavam no poste, três foram embora – quantos ficaram?)
                  ou inventar  boas foras de explicar o teorema de Pitágoras, o professor
                  precisa conhecer matemática.
                       E onde entra o cérebro em tudo isso? Por que são importantes as
                  contribuições da neurociência para avançar nosso conhecimento sobre
                  a aprendizagem e ensino da matemática?
                       Em seu artigo, Willingham apresenta algumas características do
                  cérebro animal e humano e sua propensão natural à aprendizagem
                  da matemática.  Xavier Seron, no artigo final deste livro, faz uma
                  revisão de aspectos selecionados da neurociência contemporânea que
                  estuda as modificações cerebrais que acompanham a aprendizagem da
                  matemática.  Esses estudos permitiram, em primeiro lugar, superar um
                  certo imobilismo provocado pelas teorias de  Piaget,  e  que sugeriam
                  que as crianças só poderiam começar a aprender matemática depois de
                  atingirem determinados estágios.  Mas há muitas outras implicações
                  práticas que começam a surgir de algumas vertentes de estudos que
                  ainda se encontram em estágio bastante preliminar.

                       Por exemplo, os dois sistemas naturais de que nos falou Willingham,
                  o sistema aproximativo e o sistema mais preciso, estão sendo associados
                  a progressos posteriores na aprendizagem da matemática. Para alguns
                  autores, o sistema aproximativo constitui a base sobre a qual se constrói
                  a sequência de nossas atividades numéricas; para outros, é o sistema
                  preciso porém limitado que estaria na origem de desenvolvimentos
                  posteriores. Por outro lado, não é proibido pensar que os dois sistemas
                  intervêm no decorrer do desenvolvimento, seja simultaneamente, seja
                  em momentos diferentes.

                       Outro impacto relevante dos trabalhos recentes é considerar
                  que as crianças possuem determinadas potencialidades muito antes
                  do surgimento das competências simbólicas ou linguageiras precisas.
                  Diversas pesquisas evidenciaram que algumas dessas competências
                  adquiridas muito cedo  relacionavam-se ao  nível de  competência


         12       O ENSINO DE MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS
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