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O que desenvolve? Aprendi mais sobre o assunto há algumas semanas, quando o João
Batista me pediu que escrevesse uma singela introdução a este livro. Peço licença para
um pequeno relato. Conheci o João em sua visita ao Instituto do Cérebro do Rio Grande
do Sul. Desde então, com alguma frequência, mantivemos contato. Seu trabalho basea-
do em evidências sempre avançou, ao ponto que nunca se sabe onde o João está e ainda
quer chegar. Este avanço permeou áreas além da aprendizagem da leitura e ciências, e
tem no Instituto Alfa e Beto um espelho de seu escopo e de sua abrangência. Com sua
larga experiência, que incluiu trabalho no Ministério da Educação, e sobre a qual nem
tenho espaço para escrever, o João Batista agora avança apresentando este livro Desen-
volvimento Infantil: O que desenvolve? Esta afirmativa, o que desenvolve, vira pergunta
nos diferentes capítulos que abordam desde conceitos básicos sobre o desenvolvimento,
passando pelo desenvolvimento do cérebro (retomado em diversas outras partes do
livro, como o esteio, questão principal) e passando por linguagem, emoções e inteli-
gência, até chegar em estratégias para serem trabalhadas. Há relatos de experiências,
aprende-se mais sobre a relação entre o ambiente e a genética, e como estes se combi-
nam e moldam a criança. Baseado na literatura recente e mundial, o livro exerce com
sucesso a função de abordar os fatores que ajudam a desenvolver a criança entrelaçando
cognição, emoção e controle. Aristóteles afirmava que a comunicação e a persuasão se
estabelecem com o ethos (credibilidade), o logos (o meio de persuasão, lógica, dados e
estatísticas) e o pathos (o apelo a emoção). A credibilidade se estabelece no autor, no
seu trabalho e nos cientistas de todo mundo. O livro, por sua vez, permeia-se de logos
com dados empíricos e referências para que o leitor possa aprofundar o ponto de de-
senvolvimento de seu interesse. O pathos, talvez o mais importante, está nas histórias
relatadas, algumas experiências pessoais, nas relações feitas com o leitor e o dia-a-dia
em seções de “teoria à prática”. O termo persuasão, para alguns, pode carregar uma co-
notação negativa. Um livro com base em evidências, parece-nos, precisaria persuadir?
Sim, tem de fazê-lo. A ciência se fortalece em seu meio, mas sempre carece de pontes
com a educação, a saúde e as políticas públicas para que estas sejam baseadas em evi-
dências que a ciência produz. O livro, como mensageiro de desenvolvimento baseado
em evidências, tem de iluminar os cantos escuros do dogma e do que não desenvolve.
Há escuridão em teorias que nunca se prestaram à refutabilidade e viraram, portan-
to, dogma; há escuridão em interesses estabelecidos, corporativos. Há escuridão em
interesses pessoais, em inflexibilidade e irrefutabiliade. Nada disto é ciência. Tem-se
neste livro mais um farol para aqueles que querem aprender sobre ou trabalhar pelo
desenvolvimento da criança com os interesses da criança em primeiro lugar. Adentra-se
o assunto com amadurecimento e abertura, informação atual, questionamento e auto-
crítica. Isto é ciência. Tive o privilégio de ler o trabalho com antecedência. Só me resta
encerrar com o tradicional “boa leitura”!
Augusto Buchweitz
Doutor em Língua e Literatura Inglesa (UFSC), Pós-doutorado em Neurociência (Carnegie
Mellon University) Professor de Linguística e pesquisador do
Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, da PUCRS.