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Hoje sabemos mais do que isso. Sabemos um pouco mais sobre os
mecanismos pelos quais a escolaridade dos pais afeta as chances de
sucesso escolar dos filhos. E, por isso mesmo, também sabemos que
essa condição é forte, mas não é inexorável, e que pode ser mitigada
ou compensada com iniciativas como programas de leitura.
Os recentes avanços das neurociências – especialmente a
epigenética – demonstram a importância dos primeiros anos de vida na
forma de manifestação dos gens: a forma como os gens se manifestam
não é predeterminada, ela depende muito do que ocorre durante a
gestação e os primeiros anos de vida. A epigenética vem demonstrando
que é da natureza dos gens interagir com o ambiente e moldar-se a partir
dessa interação. A epigenética não nega o papel quase determinante
dos gens, ao contrário. Mas diferentemente das concepções anteriores,
hoje sabemos que o que acontece no ambiente intrauterino e ao longo
dos primeiros anos de vida é fundamental para a manifestação dessa
influência genética, especialmente no que se refere aos aspectos do
desenvolvimento social e cognitivo (Shonkoff e Phillips, 2000).
De modo particular, há três conjuntos de estudos mencionados
pelos autores dos dois trabalhos que compõem este livro, que
fundamentam essa nova perspectiva. O primeiro deles são os estudos do
NIHCD – National Institutes for Human and Child Development. Esses
estudos de natureza longitudinal – realizados ao longo dos últimos 15
anos por diversos grupos interdisciplinares de cientistas – ao mesmo
tempo descrevem e comprovam como a transmissão da linguagem
está associada aos mecanismos de transmissão social da pobreza.
Esses estudos demonstram como linguagem usada pelos pais afeta
fortemente a aquisição do vocabulário e o domínio da sintaxe pelos
filhos – fatores decisivos para o sucesso escolar (NIHCD, 2000a e 2000b).
Outro estudo que revolucionou o entendimento desses
mecanismos de transmissão social da pobreza via linguagem
foi realizado pelas pesquisadoras Hart e Risley (1995, 1997).
Essas autoras demonstraram as diferenças de qualidade e
quantidade de linguagem a que as crianças são expostas nos primeiros
anos de vida: ambas são muito diferentes, e ambas estão associadas ao
nível de escolaridade dos pais, especialmente das mães.
Quanto mais baixo o nível de escolaridade e classe social,
menor a quantidade de palavras faladas e ouvidas.
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