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Prefácio
Considero-me um profissional de sucesso. A maioria das pessoas que divide comigo
este ponto de vista, provavelmente, avalia este sucesso pela posição que ocupo como
Presidente para a América latina de uma grande empresa multinacional, ou ao meu status
sócio-econômico, ou à imagem naturalmente associada à de um empresário bem-sucedido.
A minha métrica difere substancialmente disto. Considero-me um empresário de sucesso
muito mais pela minha trajetória do que pelo estágio atual alcançado. explico: originário de
uma numerosa família de baixa renda dos grotões do interior de Pernambuco, tenho total
consciência de que a longa trajetória iniciada desde Arcoverde, há várias décadas, só pôde ser
trilhada com sucesso devido às oportunidades que se me apresentaram de freqüentar escolas
públicas que propiciavam um ensino de qualidade.
eu sou um produto da escola pública brasileira! todavia não desta escola pública
de hoje, mas de algo bem distinto que já existiu em um passado distante. longe de ser uma
escola ideal, no entanto, para aqueles que a conseguiam acessar, era eficaz, ou seja, o aluno
tinha uma real possibilidade de aprendizagem.
sou testemunha de inúmeros casos similares ao meu, de contemporâneos oriundos
de mesma classe social e que conseguiram galgar posições de sucesso no mundo empresarial,
acadêmico, artístico e político, tendo como única plataforma uma educação de qualidade
obtida nas bancas das escolas públicas. Hoje, posso assegurar: é praticamente impossível para
um jovem de baixa renda e “educado” em escola pública ascender social e economicamente
até o topo da pirâmide.
uma análise dos resultados das avaliações realizadas em nossas escolas públicas do
nível fundamental (1a à 8a série) indica que nos últimos 20 anos a aprendizagem nivelou-
se em um patamar extremamente baixo, algo equivalente a uma nota 3 em uma escala de
0 a 10. Como conseqüência, 40% dos alunos da 4a série são analfabetos e os que concluem
a 8a série têm o domínio de conteúdos da 4a série.
não surpreende, pois ao termos acesso ao resultado de pesquisa realizada pelo Instituto
social Ibope, tomamos conhecimento de que 65% da população brasileira não consegue ler e
interpretar um texto de mediana complexidade (O estado de são Paulo – Março 2006).
Afinal, o que se passou com a educação pública brasileira, especialmente no seu
ensino básico, para produzir tamanha catástrofe e a sociedade manter-se em estado cataléptico
durante décadas?
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